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Conheça o programa secreto de Israel que pode ter 90 bombas atômicas

Agência Brasil

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Apesar de Israel não aceitar que o Irã tenha armas nucleares, diversas fontes ao longo da história indicaram que o Estado judeu mantém um amplo programa nuclear secreto desde a década de 1950. Tal projeto teria desenvolvido pelo menos 90 ogivas atômicas.  

Essa estimativa é da Federação de Cientistas Americanos e da Associação de Controle de Armamentos, ambas dos Estados Unidos (EUA). Porém, há fontes que apontam para um arsenal ainda maior.

Israel nunca reconheceu, nem negou, ter bombas atômicas, mas é o único país do Oriente Médio a não assinar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). Por isso, não se submete às inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada a ONU, contrariando apelo do Conselho de Segurança da ONU feito em 1981.


09/10/2023, O doutor em Estudos Estratégicos Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) Robson Valdez acrescentou que, assim como os Acordos de Abraão, os acordos da China no Oriente Médio por meio dos investimentos da chamada Rota da Seda pressionam para uma maior estabilidade política na região, o que o ataque do Hamas acaba por desestabilizar. Foto: Arquivo Pessoal
09/10/2023, O doutor em Estudos Estratégicos Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) Robson Valdez acrescentou que, assim como os Acordos de Abraão, os acordos da China no Oriente Médio por meio dos investimentos da chamada Rota da Seda pressionam para uma maior estabilidade política na região, o que o ataque do Hamas acaba por desestabilizar. Foto: Arquivo Pessoal

Professor de relações internacionais Robson Valdez, do IDP, critica o apoio incondicional a Israel. Foto: Arquivo pessoal

O professor de história da Universidade de Brasília (UnB) Luiz Alberto Moniz Bandeira, em seu livro A Segunda Guerra Fria, contou que Israel teria começado a construção da sua usina nuclear na cidade de Dimona, ao sul de Jerusalém, “bem antes de 1958”, por meio do projeto Soreq Nuclear Research Center, operado pela Israel Atomic Energy Commission (IAEC).  

A pressão exercida pelas potências ocidentais contra o programa nuclear do Irã contrasta com a ausência de cobrança em relação ao programa nuclear de Israel.

O professor de relações internacionais Robson Valdez, do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), ressaltou à Agência Brasil que o apoio incondicional a Israel revela a hipocrisia das potências ocidentais.

“Israel tem um programa nuclear que manipula, instrumentaliza e desenvolve à revelia da AIEA. Há uma abordagem enviesada do direito internacional. Para os inimigos, todo o rigor da Lei internacional e, para os parceiros, como Israel, notório violador do direito internacional, há uma retórica contemporizadora para suas ações ilegais”, disse o especialista.

Primeiros reatores

Os primeiros reatores de Israel teriam sido fornecidos pelos Estados Unidos (EUA), no âmbito do programa “Átomos para a Paz”. Segundo o historiador brasileiro Manoel Bandeira, Israel iniciou a construção das bombas nucleares sem consultar Washington. Já a CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos) só descobriu o local da produção três anos depois, “se é que antes não o sabia”.  


Brasília (DF), 17/06/2025 - O cientista político com estudos sobre Ásia e o mundo islâmico, Ali Ramos. Foto: Ali Ramos/Arquivo Pessoal
Brasília (DF), 17/06/2025 - O cientista político com estudos sobre Ásia e o mundo islâmico, Ali Ramos. Foto: Ali Ramos/Arquivo Pessoal

O cientista político Ali Ramos questiona o conhecimento dos EUA sobre programa de armamento nuclear de Israel. Foto: Ali Ramos/Arquivo Pessoal

Para o cientista político Ali Ramos, especialista em história da Ásia e do mundo islâmico, é difícil afirmar até que ponto os EUA não tinham conhecimento do programa de armamento nuclear de Israel.

“Os EUA fizeram vista grossa. Temos também o problema, desde sempre, da cooptação das agências de segurança dos EUA pelo lobby israelense. Acredito que a CIA e o FBI [Departamento Federal de Investigação dos EUA] não avisaram ao presidente americano, assim como não avisaram ao presidente Kennedy da situação real da invasão da Baía dos Porcos, em Cuba”, comentou o analista geopolítico.

O historiador Moniz Bandeira, que faleceu em 2017, escreveu que Israel recebeu assistência da Comissão de Energia Atômica da França para construir seu programa nuclear, “que lhe cedeu materiais atômicos e cientistas para colaborarem na construção de reatores”.

Fontes

Entre as diversas fontes que afirmam a existência do programa secreto nuclear de Israel, o pesquisador Moniz Bandeira cita o alto funcionário da CIA Carl Ducketts que, em 1968, disse que Israel “possuía três bombas atômicas, fabricadas com 200 libras de urânio enriquecido, contrabandeadas dos Estados Unidos pelo judeu americano Zalman Shapiro”.  

Outra fonte citada pelo historiador é o agente do Mossad [serviço secreto israelense], Ari Ben-Menashe, que revelou que, entre 1968 e 1973, Israel fabricou 13 bombas atômicas, “cada qual com um poder destrutivo três vezes maior do que as que arrasaram Hiroshima e Nagasaki”.

Em 2008, o ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, revelou que Israel possuía um arsenal da ordem de 150 ogivas nucleares. Outras fontes estimam que o arsenal pode chegar até a 300 bombas atômicas, ainda segundo o livro do Moniz Bandeira.

O programa para construção de bombas nucleares de Israel foi ainda revelado pelo ex-técnico nuclear israelense Mordechai Vanunu, em entrevista ao jornal britânico Sunday Times, em 1986. Por causa dessa revelação, ele foi preso por 18 anos, incluindo 11 anos em solitária.


Israeli nuclear whistleblower Mordechai Vanunu speaks during a meeting with a delegation of activists from the International Campaign to Free Vanunu, in the eastern part of Jerusalem April 18, 2005. Vanunu went on trial on Tuesday accused of violating terms of his release from prison by talking to foreign reporters and trying to visit the West Bank. Vanunu, 50, was released last April after serving an 18-year term for spilling secrets about the Dimona nuclear reactor to a British newspaper. REUTERS/Ammar Awad  OP/VP
Israeli nuclear whistleblower Mordechai Vanunu speaks during a meeting with a delegation of activists from the International Campaign to Free Vanunu, in the eastern part of Jerusalem April 18, 2005. Vanunu went on trial on Tuesday accused of violating terms of his release from prison by talking to foreign reporters and trying to visit the West Bank. Vanunu, 50, was released last April after serving an 18-year term for spilling secrets about the Dimona nuclear reactor to a British newspaper. REUTERS/Ammar Awad  OP/VP

Ex-técnico nuclear israelense Mordechai Vanunu revelou o programa para construção de bombas nucleares de Israel- Foto: REUTERS/Ammar Awad/Proibida reprodução

Vanunu foi condenado por traição e espionagem. Ao ser liberado, em 2004, teve sua liberdade de movimento restrita. Em entrevista à BBC, disse que não se arrependeu de revelar o programa nuclear de armamentos do seu país.  

“O que eu fiz foi informar o mundo sobre o que está acontecendo em segredo. Senti que isso não se tratava de traição. Era sobre informação, era sobre salvar Israel de um novo holocausto”, disse.

Conselho Segurança da ONU

O fato de Israel não submeter o seu programa nuclear ao controle externo contradiz apelo do Conselho de Segurança da ONU de 1981. Logo após Tel Aviv bombardear o reator de Osirak, no Iraque, o órgão máximo da ONU aprovou a resolução 487, que ainda está em vigor.

A norma condenou o ataque de Israel ao Iraque, determinou que o país se abstivesse de atacar novamente reatores nucleares e ressaltou a ilegalidade de atacar usinas com materiais atômicos, o que Israel voltou a fazer agora contra o Irã.

Na mesma resolução, o Conselho de Segurança da ONU apelou para que Israel “coloque urgentemente as suas instalações nucleares sob as salvaguardas da AIEA”, o que nunca foi atendido.

Em 2009, a AIEA aprovou resolução convocando Israel a assinar o TNP e se colocar à disposição da Agência para inspeções, mas o país se negou a aceitar dizendo que “era direito soberano de qualquer Estado decidir se acedia a qualquer tratado”.

O cientista político Ali Ramos destacou que o programa nuclear israelense é o único do mundo que não passa por inspeções da ONU ou da AIEA. “Até os programas nucleares americano, britânico e francês passam por algum controle. O israelense não passa. É o único do mundo que vive nesse limbo, nessa cinzenta”, acrescentou.

Expansão territorial de Israel

O programa nuclear israelense também foi útil para expansão do território do país sobre as terras palestinas. Criado em 1948, Israel assumiu o controle sobre toda a Palestina histórica em 1967, quando expulsou as tropas da Jordânia e do Egito da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.

Em 1973, quando tropas do Egito e da Síria atacaram Israel com objetivo de recuperar as terras ocupadas pelos israelenses na guerra de 1967, o general Moshe Dayan, ministro da Defesa, deu alerta nuclear e colocou de prontidão 24 bombardeios B-52 com 13 bombas atômicas que possuía.

“Seu propósito, ao que tudo indica, não era propriamente lançá-las, mas induzir os EUA a tomarem uma atitude mais decisiva com respeito à União Soviética e força-la a conter a Síria e o Egito”, avaliou o professor Moniz Bandeira.

Fonte: Agência Brasil

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