Esportes
Coluna – Parasurfe e paraescalada ainda sonham com Los Angeles
O comunicado do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, sigla em inglês) sobre o programa da Paralimpíada de Los Angeles (Estados Unidos), em 2028, frustrou a expectativa de atletas de nove das 33 modalidades que se candidataram ao evento. A entidade confirmou a presença dos 22 esportes que integram os Jogos de Paris (França) e deixou aberta a possibilidade do parasurfe e da paraescalada – caso indicados pelo Comitê Organizador – serem incluídos, pela primeira vez, no palco maior do movimento paralímpico. O IPC baterá o martelo até o fim deste ano.
Em nota, a Associação Internacional de Surfe (ISA, sigla em inglês) disse estar “satisfeita” pelo IPC reconhecer a “viabilidade competitiva e a integridade” do parasurfe, “bem como os benefícios estratégicos à Paralimpíada”. Segundo a entidade, a modalidade “combina” com Los Angeles, “lugar de forte tradição e apoio ao esporte e ao alto rendimento”. Vale lembrar que o último Mundial de surfe adaptado, em 2022, foi em Prismo Beach, a cerca de três horas da cidade-sede dos Jogos de 2028.
“Eu imaginava que o parasurfe iria para essa ‘segunda chamada’. O mar é um desafio. Quando você aprova uma Olimpíada, tem todo um processo de saber se o lugar tem um oceano apto para o surfe e qual a logística. Tanto que, nos Jogos de Paris, o surfe será no Taiti. No surfe adaptado, esse é [um desafio a] mais. Ao mesmo tempo, há questões técnicas, como as categorias. A ISA tem várias classes e obviamente não entrariam todas [na Paralimpíada]”, analisou o presidente da Confederação Brasileira de Surf (CBSurf), Teco Padaratz, à Agência Brasil.
“[A região de] Los Angeles tem, no mínimo, 25 praias perfeitas ao parasurfe. Acredito que a modalidade estará [nos Jogos de 2028] porque questões que podem pintar serão facilmente resolvidas. Entendo que o recado do IPC é que [parasurfe e paraescalada] são dois esportes importantes e que se deseja conversar de novo com eles. É normal e até sadio”, emendou o dirigente.
Se o parasurfe entrar na Paralimpíada, o Brasil desponta como candidato a potência. No último Mundial, o país ficou em quarto lugar na classificação geral, atrás de EUA, França e Espanha. Nas 17 classes, a equipe brasileira foi representada em 13 e teve campeão em cinco: Elias “Figue” Diel na VI1 (cego), Davi Teixeira na Prone 2 (atletas que surfam de bruços, com auxílio na remada), Felipe Kizu Lima na Open Sit (surfistas que pegam onda sentados), Rafael Lueders na Stand 2 e Alcino “Pirata” Neto na Stand 3 (ambas categorias para amputados ou pessoas com limitações nos membros inferiores, sendo a 2 abaixo do joelho e 3 acima).
A seleção que representou o país em Prismo Beach – e que também conquistou mais quatro medalhas (duas de prata e duas de bronzes) – foi definida em uma seletiva realizada em setembro, na praia de Maracaípe (PE). Segundo Teco, como o parasurfe não tem recursos específicos, pois ainda não integra o movimento paralímpico, foi necessário buscar apoio externo para levar a equipe aos EUA.
“Tinha uma conta, era R$ 375 mil, mais ou menos. Montamos uma campanha de vaquinha. Um dos empresários [do conselho consultivo da confederação] era especialista em engajamento. Liguei para todo mundo que conhecia. Em duas semanas e meia, levantamos a grana”, recordou o dirigente.
“A gente foi com número limitado [ao Mundial] Se tivéssemos preenchido todas as categorias, teríamos vencido [a classificação geral]. Estivemos em 70% delas e quase vencemos. Provavelmente [na Paralimpíada], viremos para brigar pelo ouro”, completou o presidente da CBSurf.
Esperança renovada
A Federação Internacional de Escalada Esportiva (IFSC, sigla em inglês) também se manifestou por meio de nota. Segundo o comunicado, o presidente da entidade, Marco Scolaris, avaliou como um “grande passo e feito” a modalidade ser considerada para 2028 e destacou ter sido possível, “em tão curto espaço de tempo, apresentar uma proposta forte”. O dirigente ainda disse acreditar que a paraescalada e o parasurfe estarão em Los Angeles, “local com grande cultura e comunidade” em ambos os esportes.
“A gente tinha expectativa de [a paraescalada] ser eleita agora. A candidatura era sólida. Mas faz parte. Também gerou expectativa antes da escolha [da modalidade olímpica] para [os Jogos de] Tóquio [Japão]. Estamos bem confiantes, não perdemos a esperança ainda. Seria um sonho meu, como ex-atleta e dirigente”, disse o presidente da Associação Brasileira de Escalada Esportiva (ABEE), Raphael Nishimura, à Agência Brasil.
Desde os oito anos, Raphael convive com a distonia muscular, distúrbio que causa a contração involuntária dos músculos, dificultando a coordenação motora e a locomoção. Em 2012, quatro anos depois de começar no esporte adaptado, ele foi vice-campeão mundial de paraescalada, em Paris (França).
“Por muito tempo, competi sozinho. No ano passado, foi recorde [de participantes no Campeonato Brasileiro, sete]. É [um número] pequeno, mas se você pega a América do Sul toda, só o Brasil fomenta a paraescalada. No continente americano, tem Brasil e EUA. A Europa é forte, o Japão também. [Aqui] Falta um pouco de incentivo. No esporte convencional já é difícil, no paradesporto fica mais difícil ainda conseguir recursos”, explicou o dirigente.
A presença da escalada na Olimpíada garante recursos da Lei Agnelo/Piva à ABEE, via Comitê Olímpico do Brasil (COB). O investimento, contudo, tem de ser direcionado à modalidade convencional. No ano passado, a entidade ainda conseguiu auxiliar a participação de Marina Dias em etapas da Copa do Mundo de paraescalada. A brasileira, que também obteve apoio da prefeitura de Taubaté (SP) por meio de um programa de amparo ao esporte amador, conquistou uma histórica medalha de ouro em Salt Lake City (EUA) e um bronze em Innsbruck (Áustria).
Segundo Raphael, a ideia é cadastrar um projeto de Lei de Incentivo para viabilizar a participação brasileira no Campeonato Mundial de paraescalada deste ano, entre 8 e 9 de agosto, em Berna (Suíça). Estar na competição é uma das metas de Marina, que compete na classe RP3, para escaladores com deficiências que impactam o alcance e a força. A escaladora de 39 anos tem o lado esquerdo do corpo afetado pela esclerose múltipla, que é degenerativa.
“É fundamental a participação de mais representantes, mais países e mais atletas [em competições de paraescalada], para colaborar com a inclusão [na Paralimpíada]. Tenho esperança que a gente consiga participar de mais etapas neste ano. Não só eu, mas um time brasileiro. A gente ainda depende de apoio privado e nosso próprio custeio”, comentou Marina, à Agência Brasil.
“Neste ano, estou planejando participar da [etapa da] Copa do Mundo dos EUA novamente, em maio [entre os dias 16 e 17], mas ainda dependo um pouco de conseguir algum recurso para ver se vou na outra etapa da Copa do Mundo [na Áustria, em junho] e até para o Mundial. Não tenho recurso suficiente para essas duas competições”, completou a escaladora.
A paraescalada tem quatro classes. A RP reúne escaladores com deficiências que impactam alcance e força e é dividida em RP1, RP2 e RP3 – quanto menor o número, maior o comprometimento. Na classe B (do inglês blind), estão os atletas deficientes visuais, que podem contar com apoio de um guia, separados em B1, B2 e B3. As classes AL e AU, respectivamente voltadas a esportistas com limitação nos membros inferiores e superiores, têm duas subcategorias cada: AL1, AL2, AU1 e AU2.
* Lincoln Chaves é repórter da TV Brasil, Rádio Nacional e Agência Brasil
Fonte: Agência Brasil
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